21 dezembro 2006

in Diário Digital, 21/12/06

O autor de um estudo sobre soluções gráficas adoptadas, em 110.000 primeiras páginas, por três diários do Porto, admitiu hoje que os designers de jornal são mal amados nas redacções, alegadamente por sacrificarem conteúdos em favor da estética.

«Sinto olhares de soslaio, mas respeito-os», afirmou Eduardo Aires, que ao defender a sua tese de doutoramento a partir deste estudo se tornou, segunda-feira, o primeiro doutorado em design pela faculdade onde lecciona, a de Belas-Artes da Universidade do Porto (FBAUP).

«Acredito que o tempo e a experiência vão acabar por regulamentar estas questões», acrescentou Eduardo Aires, membro da Associação Portuguesa de Designers e do Art Directors Club, de Nova Iorque e autor de projectos gráficos para um diário e um semanário da região Centro.

Os jornalistas da imprensa «queixam-se frequentemente da »ditadura do grafismo«, que os obriga a escrever directamente nas páginas, em espaços predefinidos, sem espaço para a criatividade», afirma o recém-doutorado.

«Onde isto acontece, o design não está a cumprir o seu papel», afirmou, defendendo que os designers de jornais têm que revelar «capacidade negocial» com as redacções, sob pena de assumirem o papel dos antigos chefes de tipografia, que determinavam a informação que era publicada.

No seu estudo sobre a imprensa do Porto, em que analisou 110.000 primeiras páginas do «Jornal de Notícias», «O Primeiro de Janeiro» e o extinto «O Comércio do Porto», Eduardo Aires alude a uma época em isso acontecia: «Muitas vezes não metiam notícias de futebol às segundas-feiras, só porque não gostavam da modalidade».

Eduardo Aires explicou que esta distorção do controlo editorial acontecia numa altura em que a actividade jornalística se desenvolvia sobretudo em «part-time».

Nas suas declarações à Lusa, Eduardo Aires acusou os responsáveis de alguns dos principais jornais portugueses de ignorarem, actualmente, os designers nacionais na procura de novas soluções gráficas.

«Recorrem a gabinetes estrangeiros para redesenharem os seus jornais e, muitas vezes, o trabalho acaba por ser feito por designers que esses gabinetes recrutam nas nossas escolas», garantiu o docente da FBAUP.

O «Expresso» e o «Público» são dois dos jornais que criticou por encomendarem a sua reformulação gráfica a gabinetes estrangeiros.

«Não quero entrar na lamechice, mas a verdade é que os designers que trabalham em Portugal são cada vez mais maltratados», acrescentou.

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